Guerra por talentos no e-commerce será superada com investimentos em capacitação

O competitivo ambiente online requer profissionais aptos a lidar com a velocidade das mudanças tecnológicas. Visão estratégica, agilidade, organização, planejamento, flexibilidade e inovação são as principais habilidades necessárias. O crescimento econômico no Brasil pegou de surpresa diversas áreas. Setores como infraestrutura, telecomunicações, transportes e capacitação profissional, não estão conseguindo acompanhar a demanda das empresas na obtenção de mão de obra qualificada.

Mesmo com a expansão vertical que o mercado do e-commerce vem atingindo, existem muitas barreiras quando se trata de encontrar profissionais com qualificação. Na 24ª edição do relatório WebShoppers, a e-bit publicou que a maioria das empresas entrevistadas (63%) contrataram profissionais no último semestre. Cerca de 80% concluíram que os candidatos não atendem a todos os pré-requisitos. O relatório ainda aponta que 22% das empresas não sabem onde encontrar currículos na área de e-commerce e 20% enfrentam dificuldades em contratar, pois o salário oferecido está abaixo do solicitado pelo profissional.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou um estudo que identifica uma carência de cerca de 70 mil profissionais na área de TI. As áreas de comunicação e marketing também sofrem com este problema, devido à falta de profissionais com conhecimento em planejamento de ações na web. Segundo o consultor e instrutor da equipe do Curso de E-Commerce, Alberto Valle, a formação técnica é o maior entrave. “Não existem profissionais prontos no mercado, principalmente nas áreas que envolvem o web marketing como SEO, links patrocinados, Google Analytics e marketing em redes sociais”. Para o consultor, a solução para muitas empresas é formar seus próprios profissionais. “Sem uma boa formação, não há como disputar uma vaga com boa remuneração neste mercado”, ressalta Valle.

Valle comenta que o profissional de e-commerce precisa ser multidisciplinar e saber que o sucesso de uma operação em e-commerce depende de várias áreas do conhecimento. “Uma base em administração e domínio das ferramentas 2.0 é essencial. Além disso, o profissional de e-commerce precisa ser uma pessoa antenada nas novas tendências do mercado”. Para ele, no e-commerce deve-se compreender os fatores psicológicos que levam o internauta a comprar na web e as ferramentas de marketing digital que criam esse canal de acesso. “A gama de conhecimentos necessários para o bom desempenho da função é vasta e, por isso, a construção do conhecimento se dá de forma gradativa”, finaliza o instrutor.

A falta de qualificação vem causando grande disputa entre as empresas, o que acabou gerando uma verdadeira “guerra por talentos”. De acordo com Mauricio Salvador, Sócio Diretor da GS Ecommerce e fundador da Ecommerce School, com a entrada de players internacionais, a procura por profissionais irá se intensificar ainda mais. “Grandes empresas sofrerão impacto em curto prazo. Nos níveis executivos, de alta gerência e diretoria, com menor intensidade, pois são cargos ocupados por profissionais mais maduros, que analisam outras variáveis além do salário. Já nas empresas de pequeno e médio porte, o impacto deve ser maior, pois são cargos ocupados por profissionais da Geração Y, mais sensível às alterações salariais e com uma cultura de turn over maior”, diz salvador, acrescentando que países mais desenvolvidos também tiveram que lidar com esta questão, mas acabaram utilizando uma solução que dificilmente poderíamos replicar aqui no Brasil. “Os países desenvolvidos também tiveram seus apagões, mas em menor profundidade, pois abriram torneiras na imigração para poderem suprir essa carência, explica.

O especialista acredita que uma mudança de foco pode contribuir para melhorar a situação. “Enquanto nos países desenvolvidos as pessoas buscam formações mais específicas, no Brasil, ainda existe o sonho do diploma universitário”. Salvador comenta que as faculdades formam inúmeros profissionais, mas poucos com especialização. “Os profissionais recém formados precisam de um tempo de atuação no mercado de trabalho para aprenderem de fato a prática”, enfatiza.