Suposta censura da Amazon a livros gays gera revolta na web

| 09/11/2009 - 23:10 PM | Comentários (0)

Em resposta a quase dois dias de comentários zangados na internet, especialmente no Twitter, a Amazon.com anunciou na segunda-feira que “um erro de catalogação embaraçoso e grosseiro” havia levado milhares de livros em seu site a perder sua classificação no ranking de vendas, o que os torna mais difíceis de encontrar em buscas.

A maioria dos críticos da empresa na internet se queixou de que o problema parecia ter efeito desproporcional sobre livros com temas homossexuais, o que gerou protestos quanto a uma possível censura por parte da empresa.

Os títulos que perderam seu ranking de vendas no final de semana incluem Giovanni’s Room, de James Baldwin, o romance gay Transgressions e Unfriendly Fire, trabalho recentemente publicado sobre as políticas do governo quanto aos homossexuais nas forças armadas.

Mas em comunicado distribuído por e-mail na noite de segunda-feira, a Amazon anunciou que 57.310 títulos em diversas categorias amplas haviam sido prejudicados, entre os quais livros sobre saúde e medicina reprodutiva.

Na noite de domingo, uma porta-voz da Amazon.com declarou à agência de notícias Associated Press que tinha acontecido “um erro em nossos sistemas”, mas a empresa não ofereceu explicações adicionais ao longo do dia, na segunda-feira, o que fez crescerem as suspeitas e as teorias de conspiração. Um hacker chegou a tentar assumir o crédito pelo incidente, escrevendo em seu blog que havia aproveitado falhas no site da Amazon para enganar usuários e levá-los a categorizar como inapropriados livros de temática homossexual. Os usuários do Twitter levaram essa afirmação à lista das mais populares do serviço, o que atraiu ainda mais interesse para o assunto.

Alguns dos livros afetados começaram a reaparecer nas buscas com seu ranking de vendas restaurados no começo da tarde da segunda-feira.

Na Amazon.com, o ranking de vendas é importante para os autores porque ajuda a colocar os livros na lista de best sellers do site e ajuda os consumidores a encontrá-los. Muitos dos títulos afetados desapareceram das páginas básicas de busca, de modo que uma busca por “E. M. Forster” na home page da Amazon.com não trazia retornos sobre Maurice, o clássico romance de Forster sobre um relacionamento homossexual. Nathaniel Frank, autor deUnfriendly Fire, um livro que recebeu resenhas muito positivas, disse que não conseguiu encontrar link para a versão em capa dura de seu livro, no final de semana.

Informações sobre o problema começaram a se espalhar pelos blogs e pelo Twitter na noite de domingo, depois que Mark Probst, autor de The Filly, um romance gay sobre caubóis dirigido ao público jovem, informou em seu blog que diversos romances com temas homossexuais, como o seu, haviam perdido seus rankings de venda no site. Probst enviou um e-mail à Amazon e a empresa respondeu informando que estava excluindo livros “adultos” de alguns resultados de busca e listas de best sellers.

Probst, em entrevista na segunda-feira, declarou que daria o benefício da dúvida à Amazon.com. “Acredito que tenha sido um erro”, diz. “Não acho que tenha havido más intenções”.

Mas outros autores não estão convencidos de que a situação seja resultado de uma simples falha.

“Há erros e erros”, diz Daniel Mendelsohn, escritor cujas memórias, The Elusive Embrace, perderam seu ranking de vendas no final de semana. “Em algum ponto do processo, que eu não compreendo por não ser um gênio da computação, as palavras ‘gay’ e ‘lésbica’ foram classificadas como se fossem pornografia. E eu me pergunto se gostaria que alguém considerasse meu livro como pornográfico, e a resposta é não”.

Mendelsohn aponta para o fato de que livros como American Psycho, que traz conteúdo explícito de sexo e violência, não perderam sua classificação. Ele se uniu a outros escritores prejudicados pelo problema, entre os quais o dramaturgo Larry Kramer, e criou uma petição por um boicote à Amazon.com. A petição já havia atraído 18 mil assinaturas pela tarde de segunda-feira.

Kramer declarou no mesmo dia que estava disposto a deixar de lado o boicote, por enquanto. Mas acrescentou, em mensagem de e-mail, que “não acredito por um segundo que aquilo tenha sido um defeito técnico”, acrescentando que “precisamos vigiar a Amazon e a maneira pela qual eles lidam com a herança cultural do mundo de maneira mais diligente”.

Diversas editoras que tiveram livros afetados pelo problema, entre as quais Simon & Schuster, Penguin Group USA e Houghton Mifflin Harcourt, se recusaram a comentar, e contatos com a Random House não foram respondidos.

Christopher Navratil, editor responsável pela Running Press, divisão do Perseus Book Group, declarou em mensagem de e-mail que sua empresa havia contactado a Amazon.com para “garantir que nossos livros tenham o ranking justo e apropriado”.

Pelo menos um escritor diz ter encontrado problemas quanto ao seu ranking de vendas na Amazon já em fevereiro. Craig Seymour, professor associado de comunicações na Universidade de Norte do Illinois e autor de All I Could Bare: My Life in the Strip Clubs of Gay Washington, D.C., um livro de memórias, diz que seu livro ficou desaparecido da maioria dos resultados de buscas por algumas semanas, mas que foi restaurado no final de fevereiro.

Em post de blog na noite de segunda-feira, Seymour afirmou que o comunicado da Amazon.com era um bom começo, mas ainda assim insuficiente. “Não explica porque escritores como eu foram informados por representantes da Amazon de que nossos produtos estavam sendo classificados como ‘livros adultos'”.

A Amazon.com anunciou no comunicado que planejava “implementar novas medidas para reduzir a probabilidade de que incidentes como esses voltem a ocorrer no futuro”, mas não acrescentou outros detalhes ao comunicado.

Mesmo depois de ter explicado o escopo do problema, a Amazon.com continuou a enfrentar críticas por sua resposta lenta e limitada ao furor online, especialmente em um momento no qual sites como o Twitter podem acelerar e amplificar qualquer queixa de maneira tão fácil.

“Francamente, surpreende que a Amazon.com, uma pioneira no mundo digital, tenha perdido a oportunidade de reagir em tempo real e de administrar essa crise melhor do que vieram a fazer”, diz Gene Grabowski, que dirige o departamento de crise e de práticas judiciais da Levick Strategic Communications, em Washington.

Grabowski acrescentou que esperava que a Amazon.com tivesse aprendido uma lição. “Caso incidentes como esse aconteçam com frequência excessiva, eles demonstram desconsideração ou desrespeito pelo diálogo online, e isso resultará em sérias desvantagens”, ele disse.

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Categoria: Notícias

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