E-commerce movimenta logística reversa no Brasil
A devolução de mercadorias produzidas pelo e-commerce gera uma crescente demanda por serviços de retorno de produtos por questões legais ou como uma maneira de fidelização
Por Paulo Roberto Leite
A visibilidade da Logística Reversa tem se acentuado nos últimos anos em todo mundo e no Brasil em função da enorme quantidade e variedade de produtos, com ciclos de vida cada vez mais curtos, que vão para o mercado visando satisfazer aos diversos micro-segmentos. Esta profusão de mercadorias multiplica a necessidade de retorno de itens ainda não consumidos e daqueles já consumidos que na maioria das vezes ainda apresentam condições de utilização, porém estão defasados mercadologicamente.
A Logística Reversa tem como foco de atuação o equacionamento do retorno de desses produtos (consumidos ou não), de forma a recapturar valor econômico, obedecer determinação legal, prestar serviços aos clientes na cadeia de suprimentos, prestar serviços aos clientes finais através da assistência técnica, dar a destinação adequada a produtos, entre outros aspectos. Sua implantação em empresas ou setores empresariais propicia lucratividade, fidelização de clientes, garantia de destino dos produtos retornados etc., contribuindo de forma decisiva para o reforço de sua imagem corporativa ou de marca e, conseqüentemente, para sua competitividade.
É neste contexto de crescimento de mercados que se insere o comércio pela Internet, denominado de e-commerce, que tem apresentado crescimento importante nos tempos atuais e em particular no Brasil. Para se ter idéia, as vendas no ano de 2005 foram de R$ 2,8 bilhões e estão estimadas em R$ 13 bilhões para 2010, com crescimento de 40% ao ano.
Diversas são as razões deste crescimento: a disseminação de usuários de Internet que cresce a uma taxa de 30% ao ano prevendo-se que atinja um total de 55 milhões em 2010; pelo desenvolvimento da banda larga que cresce à razão de mais de 80% ao ano; por uma maior confiança no sistema devido à entrada gradativa de grandes grupos de comercio varejista; por uma crescente dificuldade de se ter em demonstração física a profusão e a variedade de produtos produzidos pelas empresas, entre outros possíveis motivos.
A flexibilidade na devolução de mercadorias no e-commerce é apoiada geralmente por legislação que permite ao cliente não aceitar o produto por diferentes motivos, desde que não ultrapassado um determinado prazo (no Brasil, sete dias), caracterizando desta forma um canal sujeito a níveis de devolução normalmente elevados em todo o mundo. Os níveis de retorno de produtos nos canais de e-commerce, à semelhança de vendas por telefone ou catálogo, menos comuns por aqui, variam de 25% a 35% em países como os Estados Unidos sendo de 5% a 10% no Brasil.
Assim, tem-se observado a tendência no País de empresas do grande varejo físico entrar nas atividades de e-commerce como forma de manterem-se competitivas, o que certamente intensificará as vendas e em consequência a quantidade de retorno de itens neste canal reverso.
Varejistas como Extra, Pão de Açucar, Magazine Luiza, entre outros, desenvolvem há mais tempo a atividade de e-commerce. Recentemente entraram neste mercado Wal-Mart e Casas Bahia, seguidos pela promessa de início do Carrefour em breve.
O impacto desse crescimento e da operação de empresas desse porte é significativo para as atividades de Logística Reversa. Na medida em que será cada vez mais necessário estabelecer sistemas logísticos reversos competentes e competitivos, abrem-se enormes possibilidades de negócios para prestadores de serviços especializados, operadores logísticos, liquidadores de estoques residuais, empresas de mercados secundários, empresas de destinação final, recicladores, empresas de conserto e reparos, remanufaturadores, recondicionadores de produtos, entre outros. O tema será discutido, entre outros aspectos da Logística Reversa, em mais detalhes durante o 1º Fórum Internacional de Logística Reversa, que ocorre em 13 de maio, em São Paulo, com apresentação de cases e palestras nacionais e internacionais.
Assim, a Logística Reversa pode ser, em todos os setores de sua atuação, uma das melhores oportunidades de enfrentamento da crise mundial por que passamos, se estruturada de forma eficiente.
Paulo Roberto Leite é presidente do CLRB – Conselho de Logística Reversa do Brasil e professor universitário