Inteligência artificial em uma Internet feita por influenciadores
Não é de hoje que estamos acostumados com especulações sobre futurismo no universo da ficção científica. Carros voadores, viagens espaciais de longa distância e robôs que se assemelham a seres humanos já permeiam nosso subconsciente coletivo há algum tempo. Esse é um cenário frequentemente alimentado especialmente pela indústria cinematográfica, com filmes que vão desde O Exterminador do Futuro até a famosa série Black Mirror, entre tantos outros projetos audiovisuais.
Mas o quão perto realmente estamos de todo esse cenário? Talvez menos do que a gente possa imaginar. É claro que, em níveis muito mais tímidos do que aqueles apresentados pelo cinema quando se analisa estrutura tecnológica e implementação prática, porém com uma grande proximidade de conceito com relação à inteligência artificial.
E, como era de se esperar na vida real, as primeiras a se aventurar pelos testes futuristas são as marcas tecnológicas, que vêm investindo em pesquisas de inovação, entre elas, Microsoft, IBM, Google, Apple e Facebook, que estão na corrida acirrada de desenvolvimento de carros autônomos ou assistentes virtuais, só para citar os projetos mais famosos.
Projetos que não têm nada de ficção e já fazem parte da realidade, apenas aguardando ganharem projeção em massa e começarem a fazer parte da vida cotidiana mais cedo ou mais tarde, da mesma forma como aconteceu com os computadores pessoais e depois com os smartphones.
Na palestra do CEO André Zimmerman, em um recente bate-papo que aconteceu no Twitter sobre o último evento SXSW, ele ressalta a presença cada vez mais marcante sobre o tema. Em um de seus artigos, André escreveu: “Em 2015, por exemplo, vi apenas duas palestras sobre inteligência virtual. Em 2016, foram 21 palestras sobre o assunto”.
Praticamente todos os nichos do mercado terão de trazer a inteligência artificial sofisticada à sua realidade em algum nível, o que fomenta inclusive questões éticas sobre a coleta de dados para alimentar esses sistemas, assim como as possíveis relações emocionais que podem surgir durante a comunicação entre os humanos e as máquinas.
Portanto, antes mesmo de entrar no mérito do comodismo e da praticidade por meio da tecnologia, outros pontos delicados precisam ser deliberados, como, por exemplo, o grau de privacidade e autonomia que as pessoas terão em um novo cenário high tech 100% monitorado, a empregabilidade de seres humanos com as possíveis demissões em massa ou até que ponto a engenharia genética pode influenciar o DNA humano, entre tantas outras questões de interesse social.
Obviamente, a inteligência artificial que permeia essas novidades, aos poucos, vai se desdobrar para marcas e empresas menores, que terão de se adaptar às novas formas de consumo e relacionamento movidas por esse novo olhar.
Nesse ponto existe uma grande tendência para que o on-line saia na frente, com foco, a princípio, no mercado de varejo que, apesar dos desafios, continua em constante expansão.
Algo que já se pode ressaltar entre a possível fusão de inteligência artificial e as lojas de e-commerce é o uso de chatbots, como a versão acessível recém-lançada pelo Facebook dentro do Messenger, por exemplo, o poncho.is/, que já está causando reverberação apesar de se encontrar em um nível muito superficial.
O e-commerce como potencial cliente
Vale lembrar que o chatbot basicamente é um assistente virtual, como se fosse um robô, para conversar com você e orientá-lo nas mais diversas circunstâncias, inclusive, claro, na hora das compras. Levando em conta que o seu amigo robô também pode realizar a compra por você, isso coloca em xeque a necessidade dos aplicativos e suas variadas funções, já que, em teoria, muita coisa poderia ser centralizada em um único lugar.
Várias empresas já estão desenvolvendo chatbots e não se sabe quem ganhará essa corrida, sendo o exemplo do Facebook apenas um dos lançamentos mais recentes.
Briga entre gigantes à parte, fica nítida a oportunidade de determinados produtos e serviços serem recomendados por esse canal, gerando conversão para os e-commerces, que, com certeza, terão de gerar retribuições à altura. Agora vale entender até que ponto o mercado está preparado para isso e qual será o impacto social de compras geradas por esse recurso.
Os chatbots serão novos influenciadores?
Assim como toda nova tecnologia, a princípio ficamos assustados com tantas possibilidades que podem surgir. Mas, quando falamos de influenciadores, acredito ser inegável que nenhuma máquina será capaz de substituir o fator humano, em toda a sua complexidade e nuances emocionais.
O chatbots terão o seu papel no mercado? Muito provavelmente, porém, assim como os buscadores nunca nos deram todas as respostas de que precisamos até hoje, os chatbots muito dificilmente suprirão essa necessidade, já que o fator de análise pode ser substituído até certo ponto com base em dados, mas o poder de influência é muito mais complexo, dada a sua ligação com percepções pessoais.
Isso porque, enquanto um robô não puder experimentar um produto e ter algum tipo de ligação emocional com ele, dificilmente ele criará essa conexão com o outro de forma tão forte quanto o ser humano.
Um simples exemplo:
Um chatbot pode pedir uma pizza para você com base em dados como proximidade, preço e até avaliação da pizzaria fornecida pelos usuários, todavia, ao ser impactado pela opinião de alguém que você conheça sobre o fato de que aquela pizza é péssima, você no mínimo não repensaria sua compra? É aí que entra uma questão de confiança, mesmo que com base em fatores humanos subjetivos.
Além disso, o monopólio de informações é cada vez menos bem-visto pelas novas gerações, como Y e Z, que nasceram em um mundo repleto de fontes e tendem a pesquisar muito mais antes de tomar atitudes.
A união faz a força
Então, o que se pode concluir de tudo isso
Os chatbots provavelmente estão vindo para ficar e todo o mercado terá de se adaptar a eles de alguma forma em um futuro não tão distante.
- Por mais complexos que se tornem, eles não vão substituir o poder de influência humana.
- A princípio, os chatbots atuarão nas compras que representam baixo impacto de risco ao consumidor, por exemplo, pedir comida delivery ou chamar um carro para se locomover.
- Os influenciadores (como os publishers que fazem reviews de produtos) continuarão a ter poder de influência especialmente em compras de maior ticket médio e, consequentemente, maior impacto na vida do consumidor, por exemplo a compra de uma máquina de lavar ou mesmo um serviço como a reserva de um hotel. Isso porque, quanto mais significante a escolha, mais as pessoas tendem a pesquisar e principalmente a ouvir opiniões diferentes sobre o assunto.
- Os chatbots têm a possibilidade de trabalhar em conjunto com os influenciadores, com esses robozinhos trazendo indicações do que o youtuber X pensa a respeito do tema ou sobre reviews do produto nos canais Y. Essa oportunidade de cross channel tende a gerar inclusive maior confiança por se tratar de várias fontes em vez de representar um possível monopólio e manipulação de uma fonte só.
Ou seja, assim como vem acontecendo com praticamente tudo, é claro que vai depender de adaptação e fusão de ideias. Com a inovação, algumas coisas se tornam obsoletas dentro do processo, mas daí vem a criatividade de readaptação.
No caso do marketing de afiliados, sempre vale lembrar que estamos lidando com a inteligência mais refinada que existe no mercado, o ser humano, capaz de discernir e influenciar seus pares como nenhum outro.
Desde que a função da tecnologia deve ser sempre otimizar e facilitar o cotidiano, a fim de melhorar as relações humanas, é possível presumir que influenciadores e inteligência artificial tenderão a caminhar em parceria, com o segundo a serviço do primeiro e não o contrário.
Aí entram as questões de ética citadas anteriormente. Cabe às empresas e aos consumidores fazer o melhor uso desses novos recursos inevitáveis. E não é preciso esperar o “futuro” acontecer para se posicionar sobre o tema, pois a hora de reflexão é agora.
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