Venda de roupas pela web ainda desafia varejo
Vender roupas e sapatos na internet é fácil. Basta ter uma oferta que atraia os usuários para esse meio, uma política de trocas clara e uma boa referência de tamanhos que possam orientar os consumidores. Mas, no Brasil, isso só funciona na teoria. O segmento de vestuário, que nos Estados Unidos é um dos mais consolidados, representa menos de 3% do total das vendas online por aqui. É um contrassenso diante da constatação de que os brasileiros compram cada dia mais produtos pela web, como livros, cds e artigos de informática. Dados da e-bit, entidade que analisa o setor, apontam que o e-commerce deve fechar o ano com faturamento de R$ 10,5 bilhões em bens de consumo.
Mas os motivos pelos quais o segmento de vestuário ainda não decolou na web brasileira já são bastante claros para quem acompanha esse mercado. O brasileiro não tem o hábito de comprar roupa pela rede mundial, ao contrário do norte-americano, mais familiarizado com essa prática em função das famosas vendas por catálogo.
Além disso, não existe uma padronização dos tamanhos no País, o que torna missão quase impossível comprar uma calça ou camisa sem correr grande risco de precisar trocar depois. “Existe uma luz no fim do túnel nesse segmento, apesar da insegurança evidente dos grandes players do setor têxtil em apostar na web”, acredita o professor de pós-graduação em Comunicação da ESPM, Pedro Waengertner.
Para ele, quando se pensa em vender roupas pela internet, uma das melhoras saídas é ter uma estratégia específica. Nos Estados Unidos, a Lands’End (www.landsend.com), por exemplo, oferece a possibilidade dos e-consumidores customizarem as roupas. Ferramentas especialmente desenvolvidas permitem que o usuário entre em um link e escolha o conteúdo, a fonte do texto, as cores e a posição do que deseja acrescentar.
Para melhor visualizar isso, são usados modelos virtuais das peças. Os usuários também podem tirar as suas dúvidas através de salas de bate-papo. “Os varejistas norte-americanos foram mais criativos nos modelos que foram desenvolvendo e isso é fundamental para o sucesso de uma iniciativa na web”, comenta.
Um dos grandes exemplos mundiais nessa área é o da rede americana Zappos (www.zappos.com). A marca é um fenômeno de vendas de sapatos, roupas e mochilas pela rede mundial, com faturamento que já superou US$ 1 bilhão. Adquirida recentemente pela gigante do comércio eletrônico Amazon por US$ 847 milhões, a Zappos já figurou no primeiro lugar da lista da revista Internet Retailer, formada pelos 500 sites de comércio eletrônico que apresentam maior crescimento de vendas. Hoje, é um exemplo bem-sucedido de que é possível ganhar dinheiro na web investindo em estratégias que saem do convencional para atender a segmentos considerados pouco viáveis em termos de negócios.
No Brasil, o segmento de vestuário ainda é uma caixa-preta para a maioria das redes. Algumas já estão fazendo algum movimento. É o caso das Lojas Marisa (www.marisa.com.br) e do site Netshoes (www.netshoes.com.br). As Lojas Renner planejam inaugurar o seu site de e-commerce em 2010, mas não começará comercializando roupas, o seu principal foco de negócios no mercado tradicional. A ideia é partir da venda de cosméticos e perfumaria, até mesmo para sentir a reação dos usuários.
Em São Paulo, uma alfaiataria promove um primeiro encontro presencial no qual todas as medidas são anotadas e, depois disso, todas as futuras compras acontecem pela web. “Esse é um segmento que vai acabar acontecendo aqui também”, projeta o consultor da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (Câmara-e-net), Gastão Mattos. O executivo está confiante no projeto nacional que visa ao estabelecimento de um padrão nos tamanhos das roupas comercializadas no País, o que deverá ajudar a alavancar também o e-commerce.
Políticas de trocas devem ser claras para conquistar e-consumidores
As regras do jogo devem ser bem claras para quem compra produtos na web, especialmente para as empresas interessadas em chamar a atenção dos consumidores para as ofertas de roupas e sapatos. Essa é uma das táticas fundamentais para que o segmento de vestuário brasileiro consiga crescer mais rapidamente no Brasil. “O nosso comércio eletrônico tem como característica o sortimento da oferta e acredito no crescimento das áreas não tão convencionais na web”, diz o diretor geral da e-bit, Pedro Guasti. Os livros continuam a liderar o ranking.
No segmento de vestuário, isso tem acontecido mais rapidamente nas vendas de calçados, principalmente esportivos, onde a padronização é maior. No Brasil, um dos destaques é a Netshoes. Criada em 2000 a empresa possui um centro de distribuição na região de Barueri (SP) e tem o seu processo 100% automatizado, utilizando processos de gestão que possam garantir a entrega dos produtos com segurança.
No site da empresa, é possível analisar os detalhes do sapato através de recursos como zoom. Além disso, o sistema armazena o tamanho do e-consumidor, informação que pode ser usada em uma segunda compra e que também auxilia na fidelização dos clientes.
Glamour leva marcas de luxo para clientes do interior brasileiro
Depois do sucesso alcançado com a criação da Sack´s, site que comercializa perfumes e produtos de beleza e que deve faturar R$ 100 milhões em 2009, o grupo Dotcom aposta as suas fichas agora na Glamour (www.glamour.com.br). A loja virtual vende roupas de marcas como Calvin Klein, Armani e Ralph Lauren, além de acessórios.
Para isso, segue a cartilha dos cases bem-sucedidos mundo afora. Se o e-consumidor adquire uma roupa que não serviu, a loja busca o produto e efetua a troca. Outra opção é usar o crédito para adquirir outra mercadoria. Além disso, o site se dedica muito a facilitar o entendimento do usuário sobre o modelo que ele está escolhendo.
Ao clicar em uma camisa, por exemplo, ele pode conferir uma série de fotos, aproximar para ver todos os detalhes (logo, bolso, costura), a especificação do material e as medidas. O cliente também recebe uma orientação sobre como fazer a medição dos modelos que possui em casa de uma peça e, depois, comparar com as disponibilizadas na loja virtual. “Sempre investimos em projetos pioneiros e, no caso da Glamour, já a posicionamos como a boutique de luxo online da América Latina”, destaca o diretor-executivo Alexandre Icaza.
Juntas, a Glamou e a Sack´s são responsáveis por mais de três mil entregas por dia, sendo que a marca de roupas de luxo tem 15% do tamanho da de perfumes. O centro de distribuição foi levado para Palmas (TO), em função de benefícios fiscais. Para o empresário, as iniciativas do grupo tem permitido levar o luxo para o
interior do Brasil.
Cerca de 80% das marcas comercializadas no site, por exemplo, não podem ser encontradas em nenhuma loja no interior de São Paulo, que em algumas cidades têm um altíssimo poder aquisitivo. O mesmo acontece em outras regiões nas quais essa oferta não é muito comum, como Nordeste e Norte.
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