O futuro da música é mesmo o Itunes
Steve Jobs deve estar feliz. Por coincidência, a marca de 10 bilhões de músicas vendidas pela loja virtual iTunes, da Apple, não só foi atingida no dia de seu aniversário (24 de fevereiro), como a canção histórica foi Guess Things Happen That Way, de um de seus ídolos, o músico Johnny Cash.
A loja online, lançada em 2003, ainda não está disponível aos brasileiros, mas seus resultados são impressionantes e levam a uma reflexão sobre a indústria fonográfica e o futuro do donwload legal de música. Pelas estatísticas, vemos que os melhores resultados da iTunes foram obtidos nos dois últimos anos (veja tabela à direita). Isso leva a uma outra questão: a venda de canções acompanha de perto o número de iPods negociados, já que o tocador digital é reconhecido como o principal motivador desse tipo de operação?
Os dados mostram que é impossível identificar um crescimento exponencial na venda de canções comparada ao número de iPods no mercado. Os proprietários dos tocadores digitais da Apple não parecem adquirir mais e mais faixas em uma forma de substituição como a que foi vista na transição do vinil para o CD, no começo dos anos 1990. Essa diferença até é compreensível, uma vez que os CDs são uma mídia digital, assim como as faixas da loja iTunes, o que permite que as músicas sejam transferidas deles diretamente para o computador e, depois, para os próprios iPods.
Na verdade, as vendas de faixas via iTunes acompanham as de iPods apenas discretamente. Isso fica mais claro se levarmos em conta que deve haver entre 100 milhões e 150 milhões de iPods funcionando hoje – é preciso ressaltar que, embora Jobs tenha dito que 250 milhões desses aparelhos foram vendidos desde o seu lançamento, em 2001, inegavelmente nem todos ainda estão em operação. Isso significa que, em média, cada dono de iPod deve ter comprado apenas entre 66 e cem faixas via iTunes, o que equivale a menos de 10 CDs.
E as estatísticas levam a mais más notícias, considerando que as vendas de iPods vem crescendo a uma taxa menor nos últimos anos. Então, se os tocadores digitais da Apple são o principal responsável pelas vendas de músicas via iTunes, o futuro aponta para uma queda nesses negócios nos próximos anos. Pelo menos nos mercados mais desenvolvidos, como Japão, Estados Unidos e Europa Ocidental, os iPods tradicionais estão no final do seu ciclo. É claro que ainda há muito espaço para o iPod Touch (que oferece acesso à web) e o recém- anunciado iPad (o computador em formato tablet da Apple) crescerem, mas eles não deverão ser o grande motor para o download legal de músicas. Pelo menos, não na mesma proporção que as primeiras gerações de iPods foram. Isso significa que, se existe salvação para a indústria fonográfica, ela ainda precisa ser descoberta.