A China pós-Google: alta e depois pausa nas buscas delicadas

| 30/03/2010 - 02:32 AM | Comentários (0)

As buscas chineses por termos politicamente delicadas chegaram a um pico no dia em que o Google deixou de filtrar seus resultados de busca, mas o governo levou adiante a campanha para remover os elogios à empresa na Internet.

As buscas por termos como Tiananmen, Falun Gong e corrupção aumentaram em mais de dez vezes em 23 de maio, o dia em que o Google começou a oferecer retornos de busca não censurados em chinês, no seu site de Hong Kong.

Mas as buscas por temos censurados no serviço de buscas sem censura que o Google opera em Hong Kong se reduziram acentuadamente nos dias seguintes, porque a maioria dos chineses preferiu não correr à procura de material politicamente delicado, e porque as páginas que o Google agora pode revelar continuam em geral bloqueadas na China.

Em testes conduzidos ao longo do final de semana em diversas cidades chinesas, usuários que tentaram buscas com o termo “Tiananmen” ou até nomes de líderes do governo chinês descobriram que essas buscas tornavam o site google.hk misteriosamente inacessível por alguns minutos. O Baidu, serviço de busca mais usado da China e que continua a censurar seus resultados, se manteve acessível para quaisquer termos de busca.

“Ouvi dizer que o Google está saindo da China. Mas e eu com isso? Uso o Baidu e gosto”, disse Xiong Huan, 27, engenheiro de software em Shenyang. “E, por enquanto, não vi muita mudança no Google, tampouco, pelo menos em termos de busca por informações delicadas”.

Mesmo assim, número significativo de pessoas aproveitou o serviço livre de censura que o Google passou a oferecer, em seu primeiro dia de operação. Houve 2,5 milhões de buscas com o termo ¿Tiananmen¿ e cerca de 4,7 milhões de buscas pela organização religiosa proscrita Falun Gong, de acordo com estimativas baseados no Google Trends e no Google Keyword Tool Box, dois recursos abertos ao público.

Mas esses números são baixos se comparados aos quase 400 milhões de usuários chineses da Internet, e a atividade de buscas rapidamente retornou a níveis médios ao longo dos últimos dias.

As buscas por “Google”, em inglês e chinês, eram muito mais populares, e totalizaram 20 milhões na terça-feira, o que sugere que os usuários do Google estão mais preocupados com preservar seu acesso ao serviço de buscas do que com a procura de informações politicamente delicadas.

Enquanto isso, o governo chinês embarcou em uma campanha online coordenada para erradicar os sentimentos favoráveis ao Google na Internet. Os comentários favoráveis ao Google em serviços de redes sociais são “removidos em dois segundos”, disse Oiwan Lam, 38, jornalista e pesquisador independente e especialista na mídia independente chinesa.

O jornal China Digital Times reportou na semana passada que o Serviço Estatal de Informações da China havia ordenado que todos os sites noticiosos “administrassem cuidadosamente as informações em diálogos, comentários e outras formas de interação”, e que removessem “textos, imagens, sons e vídeos que apoiem o Google, dediquem flores ao Google, peçam que o Google fique, torçam pelo Google e outras posturas que difiram da política determinada pelo governo”.

As autoridades chinesas rotineiramente direcionam a cobertura de notícias e a discussão pública de tópicos sensíveis, mas as restrições referentes ao Google são especialmente severas.

Javen Yang, 27, webmaster de um site de viagens em Guangzhou, disse que a equipe do site havia sido instruída na sexta-feira a remover todos os comentários relacionados ao Google. “Fomos instruídos a excluir posts sobre ‘alguma empresa norte-americana que esteja deixando a China’, pelo webmaster geral da Internet chinesa, e ele normalmente opera de acordo com instruções do governo”, afirmou Javen. O Conselho Estatal de Informação não quis comentar.

Com o forte controle sobre as discussões internas, o contraste entre os sentimentos expressos nas redes chinesa e internacional é notável. O site de discussões chinês Tianya.cn, com 35 milhões de usuários registrados, exibia apenas algumas dezenas de posts sobre o Google na tarde de sábado. Todos expressavam opiniões negativas ou neutras sobre a empresa, enquanto os usuários chineses do Twitter em geral aplaudiam a decisão do Google de oferecer resultados sem censura. O serviço microblogs Twitter é ferrenho opositor da censura. Como o Facebook e o YouTube, seu site não pode ser visitado na China continental sem o uso de software especial.

Retórica à parte, a recente decisão do Google pouco significará para os chineses comuns.

Mesmo que eles tenham acesso aos retornos sem censura do Google, enfrentarão dificuldade para ler as páginas que o governo deseje censurar. Os sites domésticos são facilmente controláveis, e os estrangeiros ficam bloqueados pelo sofisticado firewall chinês.

Em última análise, a indiferença pode ter efeito mais forte que o firewall. “Não me preocupo caso o Google fique totalmente bloqueado na China”, disse Luo Peng, 27, vendedor, de Pequim. “Como o YouTube e Facebook, minha vida é boa sem ele. Sempre posso usar outros serviços que estejam disponíveis”.

Categoria: Legislação, Notícias

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