Google ainda não está bloqueado na China, mas está por um “fio”

| 05/04/2010 - 17:53 PM | Comentários (0)

Dez dias depois que o Google desafiou a censura do governo chinês à internet, movendo o seu motor de busca para Hong Kong, seu serviço de busca continua desbloqueado na China. Mas o movimento ainda pode custar ao Google negócios substanciais, e a oferta serviços para usuários chineses de fora do país ainda não é a atitude perfeita para driblar a censura do governo.

“Eu não estou surpreso que o serviço não tenha sido bloqueado”, disse presidente da consultoria de tecnologia BDA, Duncan Clark. “Ambos os lados provavelmente não quer a coisa parta para outro nível, de modo algum”.

Mas o impacto do movimento do Google em seu negócio pode crescer com o passar do tempo. A China ainda pode decidir bloquear o domínio ou o Google.com.hk, que hospeda o serviço da empresa em Hong Kong e o Google vai ter que trabalhar para manter os clientes chineses pagando anúncios em sites internacionais do Google.

“Se [o serviço] ficar lento, isso é quase pior do que ser bloqueado”, disse Clark. “Os anunciantes odeiam incerteza.”

O Google começou a redirecionar usuários para seu site de Hong Kong a partir do seu motor de busca antigo baseado na China, com o domínio Google.cn, durante a madrugada, em 23 de março. O governo chinês foi rápido ao considerar o movimento como “totalmente errado”, mas não bloqueou o acesso ao site de Hong Kong como usuários temiam e como o Google alertou que seria possível.

A ação da empresa de buscas já gerou algumas conseqüências. Pelo menos uma empresa chinesa, o portal Tom Online, trocou o Google pelo rival Baidu.com como provedor de pesquisa. Além disso, o Google disse que a China começou a bloquear parcialmente serviços móveis da empresa, no domingo, e a operadora móvel local, China Unicom, anunciou que não pretende colocar a pesquisa do Google em seus telefones móveis.

A seqüência de eventos reflete a tensão de longa data entre empresas estrangeiras e o governo chinês em um oneroso e muitas vezes confuso ambiente regulatório. A China exige que as empresas de Internet façam a autocensura em seus sites sobre conteúdos politicamente sensíveis, de pornografia e outros. O Google afirmou que seu movimento de saída da China foi em parte uma reação ao crescente esforço para limitar a liberdade de expressão online.

Mesmo uma comunicação básica com o governo chinês sobre suas expectativas pode ser difícil. Em 12 de janeiro, o Google anunciou seu plano para interromper a censura em seus serviços, bem como sua esperança de manter conversações com o governo. A empresa conseguiu apenas duas audiências com os reguladores chineses, uma no final de janeiro e outra quatro semanas depois, após repetidos apelos da sociedade, segundo a agência estatal chinesa de notícias Xinhua.

“Você tem que trabalhar dentro das regras, e se você não fizer isso, o governo vai fazer com que você siga as regras, mesmo que isso signifique tirar do ar, censurar ou qualquer outra coisa”, diz o analista sênior da China Market Research Group, em Xangai, Ben Cavender.

Alguns observadores acreditam que outras empresas estrangeiras de tecnologia poderiam acompanhar o Google desafiando as políticas de censura chinesa. O modelo do Google de oferecer serviços de fora da China é uma abordagem possível para outras empresas como a Microsoft, com seu buscador Bing.

Mesmo com a crescente largura de banda, a atuação remota pode afetar a sintonia com as demandas dos consumidores chineses a partir de uma base estrangeira, disse Clark de BDA. O Google parece querer resolver o problema com os seus planos para manter as equipes de vendas e de pesquisa e desenvolvimento na China.

A mudança do Google para Hong Kong ainda não foi totalmente frustrada para a censura do governo chinês. O site de Hong Kong ainda está sujeito à censura na fronteira da China, onde os sistemas de governo monitoram e interrompem o tráfego da Internet contendo palavras-chave sensíveis.

Embora o Google não esteja filtrando conteúdo político, os usuários chineses que buscam termos como “Tiananmen” – referência aos protestos pela democracia na Praça Tiananmen, em Pequim, que foram massacrados pelas tropas chinesas em 1989 – ainda não conseguem carregar uma tela de resultados, algumas vezes.

Na terça-feira (30/3), os usuários também tiveram problemas para acessar o buscador do Google, aparentemente devido a uma alteração temporária das práticas de filtragem da China, de acordo com a empresa de internet. Ainda não ficou claro se esses problemas de acesso foram um ato de retaliação do governo.

A China tem dado poucas pistas se vai aceitar o Google servindo usuários chineses de fora do alcance dos reguladores. “Este filme ainda não acabou”, disse Clark.

(Owen Fletcher e Sumner Lemon)

Categoria: Legislação, Notícias

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