Um atalho chamado BuscaPé

| 16/11/2009 - 01:36 AM | Comentários (0)

Na agenda do empresário paulista Romero Rodrigues, um dos fundadores do site comparador de preços BuscaPé, o dia 22 de setembro estava reservado para um congresso de publicidade em Nova York. Mas enquanto alguns dos maiores especialistas mundiais debatiam o futuro da internet e dos anúncios digitais, Rodrigues dava sucessivas escapadas até uma agência próxima da empresa de entregas expressas Fedex, onde enviava malotes com documentos para advogados em Boston. Ao tentar usar fax e internet simultaneamente, a funcionária da Fedex desconfiou de calote e exigiu a garantia de um segundo cartão de crédito. “Ela não tinha ideia do quanto eu poderia pagar se enviasse os documentos assinados e fechasse logo aquele negócio”, diz.

Com 348 funcionários distribuídos por nove empresas, o BuscaPé é considerado uma das mais completas operações de internet da América Latina pelos serviços que oferece ao longo da cadeia de comércio eletrônico. Além do sistema que compara preços de produtos do varejo, desenvolve pesquisas na área de e-commerce, oferece ferramentas para pagamento digital, sistemas de detecção de fraudes em compras e mantém classificados online gratuitos. Das nove empresas controladas pelo BuscaPé, apenas três têm operações em outros países latino-americanos: o próprio BuscaPé, o QueBarato!, de classificados online, e ebit, que faz pesquisas na área do comércio eletrônico. O e-commerce na América Latina movimentou 11 bilhões de dólares no ano passado. É um mercado considerável e praticamente virgem para o negócio de comparação de preços. O BuscaPé não tem nenhum concorrente direto na região. O único rival a aparecer, o também brasileiro Bondfaro, foi comprado por Romero Rodrigues e seus sócios em 2006. “Diante disso, acreditamos que há um enorme potencial de crescimento do negócio na América Latina”, diz o sul-africano Antonie Roux, principal executivo das operações de internet do Grupo Naspers. “O BuscaPé tem alguns dos serviços mais avançados do mundo na área de comércio eletrônico e muitas empresas do nosso grupo podem se beneficiar disso.” Há alguns anos, o Naspers iniciou a montagem de um grande grupo global, apoiado em empresas de mídia impressa, tecnologia, TV paga e internet. Seus negócios em comércio eletrônico, games, redes sociais e serviços móveis se espalham por Rússia, Índia, China e África do Sul. Há dois anos, o grupo adquiriu a Tradus, dona dos comparadores de preços Allegro e Ricardo, líderes na Europa Central e do Leste, por 1,6 bilhão de dólares.

Com a compra do Buscapé no Brasil, mais uma ponta da estratégia do Naspers se fecha. Agora, o grupo controla empresas de internet em todos os continentes onde há potências emergentes. “O BuscaPé é peça fundamental para o Naspers completar o tripé telecomunicações, mídia e internet nos continentes que abrigam os países do Bric”, afirma Marcelo Coutinho, consultor do Ibope Mídia e pesquisador da Escola Superior de Propaganda e Marketing, de São Paulo. “E era a última grande oportunidade para aquisições na área do comércio eletrônico na América Latina.” O acordo de venda da empresa foi fechado em apenas dois meses, mas o interesse do grupo sul-africano já durava pelo menos dois anos. Pesou na negociação o fato de o BuscaPé ser a única companhia de internet sem capital aberto e independente de grandes grupos entre os dez maiores sites em audiência no Brasil. Em julho, os endereços do BuscaPé foram visitados por 8,5 milhões de pessoas no Brasil, segundo a consultoria americana comScore. Essa base de usuários servirá como termômetro para o Naspers para avaliar o comportamento de navegação e vendas online, setor que cresce 40% ao ano.

Por trás da história do BuscaPé estão quatro rapazes de pouco mais de 30 anos, membros da típica geração da internet. Romero Rodrigues, Rodrigo Borges, Ronaldo Takahashi e Rodrigo Guarino, que se juntou ao grupo original de fundadores em 2006 com a incorporação do Bondfaro, passaram por quase todas as etapas de maturação do negócio. Investiram inicialmente 100 reais mensais cada para colocar a empresa de pé. Logo depois receberam um aporte de 150 000 dólares da e-Platform, empresa brasileira de venture capital. Em junho de 2000, o banco Merrill Lynch e o Unibanco aportaram 3 milhões de dólares no BuscaPé. Dois anos depois, a empresa dava o primeiro lucro. Em dezembro de 2005, o fundo de investimento americano Great Hill adquiriu o controle do BuscaPé. Com o acordo com o Naspers, o Great Hill deixou o negócio, levando a maior parte do pagamento de 342 milhões de dólares. No total, o grupo fundador tem agora 9% da empresa. Outros sete sócios, donos de pequenas participações, saíram no processo de venda. Pelo acordo com o Naspers, Rodrigues, Borges, Takahashi e Guarino continuarão à frente da gestão da empresa daqui em diante. O grupo recebeu um pacote agressivo de stock options, que poderá ser resgatado em até cinco anos. “A perspectiva de fazer parte de uma empresa ainda maior é uma motivação para continuarmos no negócio”, diz Rodrigues.

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Categoria: Cases

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