A infraestrutura para a nova economia, ou a falta dela

| 14/08/2013 - 10:10 AM | Comentários (0)

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© pressmaster – Fotolia.com

Nas projeções atuais, modestas, diga-se, o comércio eletrônico no Brasil deverá atingir um montante de vendas de 45 bilhões de reais até 2015. Para este ano, a estimativa é que encerremos com R$  28 bilhões, o que representa hoje pouco mais de 3% de todo o varejo. Parece pouco, mas são quase 30 novos bilhões de reais na economia nos últimos 10 anos, e serão mais quase 20 novos nos próximos 2, o que representa novas vendas, pois o varejo como um todo tem mantido crescimento acima do PIB, e não dá sinais de acanhamento.

O comércio eletrônico continua a gerar crescimento muito acima dos outros canais, e é assim que se comportará por muitos anos até atingir algum equilíbrio, coisa que deve se dar de maneira bem distinta entre os segmentos em função da vocação maior ou menor de cada um para as vendas em meio digital.

Algumas dezenas de novos bilhões na economia, em curto espaço de tempo, geram demandas novas em produtos e serviços, e no caso do comércio eletrônico, não representam simplesmente mais volume, mas também novidades nas práticas, próprias de um jeito inédito de consumir. Significa aumentar a capacidade de fornecimento e criar novos processos em tempo recorde em diversas áreas, e os gargalos são cada vez mais evidentes.

Logo no início da década passada a primeira e mais evidente demanda era por meios de pagamento confiáveis para o consumidor e para o mercado. A prática era nova em qualquer lugar do mundo, e as referências de uso e controle de fraudes, também. Não por acaso, um dos primeiros desafios a se superar na inclusão de usuários era o receio de fazer uso dos meios de pagamentos tradicionais. Novas ferramentas surgiram e novas empresas cresceram e se firmaram na esteira dessa demanda por segurança e agilidade para as compras. Métodos de validação estatística e personalizada foram desenvolvidos a partir de critérios de validação de comportamento do comprador em cada segmento, e isso não se deu da noite para o dia.

Processos logísticos são outro importante gargalo, em especial para um país que não desenvolveu a prática de compras a distância como fizeram a América do Norte e Europa ao longo dos anos. Nossa oferta de entrega unitária é insuficiente e cara, e esse é um componente importante no avanço das vendas.

Oferecer maravilhas numa bem estruturada loja virtual não basta para aquele consumidor que, especialmente fora dos grandes centros, vai pagar uma fortuna em frete para receber em bom prazo suas compras em casa. Empresas especializadas nessas operações surgem pouco a pouco no mercado com excesso de demanda, mas demanda especializada. Não se trata apenas de pôr mais caminhões nas ruas, mas equipar armazéns para operações de cross-dock, picking and packing de produtos de toda a natureza, gestão de pedidos e dados, enfim, uma habilitação que certamente falta aos fornecedores tradicionais desestimula e encarece as operações.

Por fim, e não menos importante, é patente a falta de profissionais habilitados em toda a cadeia. Gestores de comércio eletrônico, programadores, gerentes de produto, análise de dados, suporte etc., são um “artigo” raro no mercado. Montar equipe para uma nova operação ou mesmo ampliar a capacidade de outra já existente não promete ser fácil também pelos próximos anos. O mercado é o mesmo, mas as práticas são outras, assim como o consumidor que se comporta de maneira totalmente distinta aos meios tradicionais. Entendê-lo e atendê-lo se faz de maneira especializada, acompanhando o calor das demandas online no dia a dia, com uma necessidade de resposta quase imediata, requer um novo aprendizado que ainda não está disseminado, que se aprende aos poucos à medida que o mercado avança, amadurece e, paradoxalmente , se reinventa com sofreguidão.

Uma parte desse quadro é inevitável: é um mercado novo, e estamos dividindo a responsabilidade por essa novidade, e na medida do possível, usufruindo dela. A outra não. Todas essas demandas seriam mais facilmente atendidas se algumas questões estruturais da nossa economia, como educação e transporte, por exemplo, estivessem melhor estruturadas. Seria uma questão de gerar novas especialidades em uma infraestrutura já existente, mas o fato é que precisamos edificar as soluções a partir das questões mais básicas. É um cenário de oportunidades, não resta dúvida, mas algumas delas se perderão pela nossa incapacidade de atender em tempo e na qualidade necessária às demandas. No mínimo, perderemos tempo, assistiremos ao refreamento dessa economia em mutação por não termos feito a lição, mais uma vez.

Enfim, a nova economia está cada vez mais incorporada à Economia de sempre, mas precisa desenvolver rapidamente práticas que atendam aos seus padrões. É uma mistura de evolução com revolução, ou seja, aperfeiçoamos métodos a partir dos já existentes e criamos alguns novos. É uma corrida contra o tempo, cara e lamentável, por conta de demandas que não são novas, mas que continuam a encarecer e limitar a nossa capacidade de realização. Que o lapso se faça, então, em oportunidade para os dispostos em empreender nesse novo momento.

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Categoria: Cases

Sobre Ricardo Daumas: Ricardo Daumas é Sócio fundador da SOLU9, que se apresenta principalmente para planejamento e implementação de ações integradas de e-commerce, marketing, operações e gestão de produtos tanto no varejo quando no setor de serviços e publishing. Atuou como executivo na C&A, Editora Abril , AOL Brasil e Livraria Saraiva , e a partir de 2010 passou a dedicar-se a projetos de terceiros, implementando operações de e-commerce integradas ao varejo e indústria, inicialmente como Diretor da GS&MD Gouvêa de Souza e agora a frente da SOLU9 e seus parceiros.Quer falar mais sobre Nova Economia? [email protected] Ver mais artigos deste autor.

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