A briga pelo segundo lugar — Na internet
O comércio eletrônico no Brasil é um universo distinto do varejo tradicional, mas há um ponto em que ambos são muito parecidos. Da mesma forma que a Casas Bahia tornou-se líder absoluta na venda de móveis, eletrodomésticos e eletrônicos no país, a B2W, empresa que concentra os sites Submarino e Americanas.com, domina o varejo online, com 54% de todo o faturamento do setor. Em ambos os cenários, o posto de número 1, de tão distante, já nem é mais tão relevante para os concorrentes, que se engalfinham em torno do segundo lugar. Na internet, a vice-liderança do mercado é ocupada pelo MagazineLuiza.com, seguido de perto por Comprafacil.com, PontoFrio.com e Extra.com. É uma competição dura, que neste ano deve se acirrar com a chegada de novos concorrentes, como Wal-Mart e Carrefour — isso sem contar a própria Casas Bahia, que desde o ano passado vem ensaiando sua estréia na internet. Todas essas empresas querem garantir seu quinhão em um setor que cresceu 43% em faturamento em 2007, registrou vendas de 6,3 bilhões de reais e deve praticamente dobrar de tamanho até 2010, segundo pesquisas da consultoria e-bit.
As vendas pela internet no Brasil seguem uma lógica peculiar. Para o consumidor online, o tamanho da empresa no varejo físico tem pouca relevância no momento da escolha da loja virtual em que fará suas compras. Grandes redes, como Ponto Frio e Extra, estão longe de refletir na internet o peso que têm no varejo tradicional. O Extra.com, principal bandeira do grupo Pão de Açúcar na internet, com faturamento de 218 milhões de reais, detém apenas 3% do mercado e está atrás do Comprafacil.com, loja online do pouco conhecido grupo carioca Hermes, especializado em venda por catálogo. Apesar de existir desde 2000, o site Extra.com passou pelo menos seis anos mergulhado em um estado de letargia, do qual só despertou no ano passado, quando começou a corrigir problemas como dificuldade de navegação, sistemas desatualizados e sortimento limitado de produtos. A loja online do Extra também compartilhava os estoques da rede física, o que implicava uma considerável perda de agilidade frente aos concorrentes com estoques independentes, como a Lojas Americanas e a Americanas.com. “Nos últimos meses, promovemos várias melhorias no site e estamos empenhados em buscar maior eficiência operacional para aumentar as vendas”, diz Oderi Gerin Leite, diretor de operações do Extra.com.
A disputa online | |
A participação de mercado das principais empresas do varejo eletrônico (em percentual)(1) | |
B2W (Americanas.com e Submarino) | 54% |
MagazineLuiza.com | 6% |
Comprafacil.com | 4% |
PontoFrio.com | 4% |
Extra.com | 3% |
Outros | 29% |
(1) Faturamento em 2007 Fontes: empresas, Comissão de Valores Mobiliários e e-bit |
Ao contrário do que acontece em países como os Estados Unidos, onde os consumidores compram quase tudo pela internet, os internautas brasileiros buscam na web um grupo restrito de produtos — basicamente eletroeletrônicos, material de informática e livros. “O brasileiro tem resistência a comprar pela internet itens como roupas, tênis ou cosméticos, que ele prefere experimentar e testar antes”, diz Pedro Guasti, diretor-geral da consultoria e-bit, especializada no setor. Até hoje, quem contrariou essa espécie de regra dos manuais do setor teve problemas. O Carrefour, maior rede de supermercados do Brasil, por exemplo, concluiu que operações de e-commerce que envolvem alimentos são complexas, traumáticas e nem sempre rentáveis. Esse tipo de produto exige transporte específico e uma sofisticada rede de distribuição, o que eleva drasticamente o preço final. Em junho do ano passado, a rede francesa firmou um acordo com a Amadeus, multinacional especializada em programas de venda online de passagens aéreas e pacotes de viagem — a idéia era estrear um site de viagens em novembro, projeto que foi adiado e deve começar a funcionar ainda no primeiro semestre. Paralelamente, o Carrefour prepara um outro portal, voltado para categorias mais maduras, como produtos de bazar, eletrodomésticos e informática, que respondem hoje por 70% do mercado online. A loja virtual deve entrar em funcionamento até o fim deste ano. O Wal-Mart, que também abrirá sua loja virtual no Brasil em 2008, venderá basicamente eletrônicos e livros. Seu trunfo serão as promoções e os descontos agressivos, marca registrada das lojas físicas. “O maior erro dos grandes varejistas é tratar as lojas online e físicas como apêndice umas das outras. São negócios diferentes, que precisam ser tratados de forma completamente distinta”, diz Gastão Mattos, presidente da consultoria paulista MCash.
O principal desafio para as empresas que buscam crescer no varejo online é ganhar a confiança do internauta oferecendo preços competitivos, pontualidade na entrega e, principalmente, mecanismos de segurança nas transações financeiras feitas no site. “O maior medo do consumidor é não receber o produto. E quem tem tradição no varejo online já sai na dianteira na preferência do comprador”, diz o analista Ricardo Almeida, da consultoria de planejamento estratégico virtual I-Group. O Submarino, criado em 1999, é ainda hoje a maior referência do setor. De maneira semelhante, o Comprafacil.com, em operação desde 2003, tem se beneficiado da experiência do grupo Hermes com venda a distância. No ano passado, o site cresceu 150% em relação a 2006, apostando em um novo modelo de negócios muito próximo da estratégia da B2W para o Submarino. “Ampliamos os serviços, como revelação digital de fotos, venda de pacotes de viagens e flores no site”, diz Gustavo Bach, diretor de marketing da empresa. “Em breve teremos ferramentas como sistema de comparação de preços, de marcas e de produtos à venda no site com os da concorrência.” O objetivo imediato é alcançar um faturamento de 600 milhões de reais até o fim deste ano, ultrapassar o MagazineLuiza.com e chegar à vice-liderança, com todo o prestígio que a posição possui.
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